A entrada das Populações Tradicionais no mundo do “meio ambiente”, deu-se
a partir da discussão sobre a presença humana nas Unidades de Conservação. Os
países pioneiros na criação de unidades de conservação estabeleceram a tradição
de que dentro das mesmas não cabia a presença da espécies humana. Porém, a
situação encontrada em países em desenvolvimento, como o Brasil, que apenas há
poucos anos criaram suas áreas de preservação e conservação, obrigou a examinar
com maior profundidade a relação entre o homem e o meio em tais áreas,
chegando-se à constatação de que realmente existem populações cuja ação é
altamente benéfica para a conservação ao meio. Estas tem sido constatações
empíricas e de exame “in loco”, pois ainda falta bastante pesquisa, inclusive
para provar que se não fosse a presença dessa população tradicional, várias
espécies não teriam sobrevivido.
As populações tradicionais, através da educação ambiental, devem ser
engajadas em outras duas atividades fundamentais para a proteção do meio
ambiente: o monitoramento ambiental e a fiscalização.
O novo conservacionismo ou a etnoconservação, como conceitua Diegues
(2000), está baseado na construção de uma aliança entre o homem e a natureza
calcada na importância de comunidades tradicionais na conservação do meio
ambiente.
A falta de conhecimento específico para o manejo das unidades de
conservação, a falta de pessoal especializado e a má distribuição dos recursos
financeiros aliada com a falta de planejamento bem como a exclusão da
comunidade local na tomada de decisões tem sido sugeridos como motivos suficientes
para a ineficácia da consolidação das mesmas (BERNARDES E MARTINS, 1998).
Para Roy (1997) a hostilidade ou no mínimo desinteresse das populações do
entorno em relação às unidades de conservação tem sido associada a vários
fatores:
- Ao estabelecimento de proibições de determinados usos da unidade
incompatíveis com a conservação dos recursos naturais e que não tem sido
acompanhado de política de promoção econômica da área que compense aos
habitantes as limitações resultantes da criação da unidade;
- À falta de confiança na administração das unidades;
- Às atitudes excessivamente técnicas ou pouco pedagógicas que ocorrem
com frequência entre os gestores destas comunidades;
- Às dificuldades das próprias populações, em geral de baixo nível cultural,
em perceber as vantagens proporcionadas pelo patrimônio de valores qualitativos
inerentes às unidades de conservação, entendendo somente as limitações
econômicas acarretadas pela criação da mesma;
- Ao caráter individualista e a pouca ou nenhuma consciência coletiva da
população, fatores que dificultam as relações de cooperação e associação
somadas à tradicional rivalidade existente entre os municípios próximos.
Segundo Leonardi (1995) o diálogo é mais do que um componente,
aparentemente óbvio, no trabalho de educação ambiental, como em toda e qualquer
tarefa educativa. Ele é uma concepção metodológica que fundamenta e especifica
esse trabalho. Isso porque o diálogo torna possível e viável o trabalho com a
diferença que, por sua vez, é pré-requisito da interdisciplinaridade. É na
articulação desses três pilares básicos: diálogo, respeito a diferença e
interdisciplinaridade; que se fundamenta o trabalho de educação ambiental.
Esses conceitos devem considerar as inter-relações entre as comunidades
locais e as áreas naturais, marcadas pelas necessidades humanas, seus
conhecimentos e valores, com os fundamentos científicos subsidiando a formação
de uma atitude da comunidade diante do patrimônio natural, para que essas
atitudes e valores se justifiquem, evitando a caracterização dos mesmos como
dogmas vazios de significados. É necessário, portanto informar sobre as
implicações ambientais das ações antrópicas e quais as alternativas menos
impactantes e/ou sustentáveis (ANTUNES et
al., 2001)
Bibliografia
ANTUNES, E. M.; VIEGAS, R. M.; SONODA, F.;
FACHIM, E. (2001) Programa de Educação e Difusão
Ambiental para a área de entorno do Parque Estadual da Serra de Ricardo Franco.
Anais do II Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, p.
332-348.
__________ DIEGUES, A. C. O
mito moderno da natureza intocada. Editora Hucitec. São Paulo SP. 1996.